sexta-feira, julho 06, 2007

MPB. Música Pela Beleza

Luiz Melodia, antes de iniciar um dos CDs mais gostosos que já ouvi – Luiz Melodia Acústico Ao Vivo – profetiza: “Que seja uma noite agradabilíssima. Música nos seus ouvidos”. E Fadas, composição do próprio Melodia, abre o leque de pérolas que, como ele, a Pérola Negra, seduzem. A Concha Acústica do TCA, na noite de uma quinta-feira de julho, que não prometia nada além de uma noite quase fria de julho, ficou seduzida, ajoelhada, desbundada com o tributo à música popular brasileira de três artistas de ponta. E quem começou foi ele. E com Fadas.

E foi o elo.

E foi o belo.

Melodia, Mart’nália e Gal, nessa ordem, pisaram o palco da enorme concha do mar musical abraçando um projeto de incentivo e divulgação da luta em favor de pessoas que sofrem de distúrbios mentais. O projeto? Loucos Por Música, o nome. Um presente pra as pessoas beneficiadas, para as instituições, e para nós – o público, suplicante lado de cá do palco, embevecido pelas doses homeopáticas de prazer a cada nota, som, encontro musical. Inexplicável. O que dizer de Martnália e Melodia cantando juntos Estácio Holly Estácio ? E Gal e Melodia brincando, entreolhando-se ao som de Pérola Negra? O que dizer de Mart’nália e seu samba com o agudo de Gal em Sonho Meu?

Foi o meu presente antecipado.

quarta-feira, abril 18, 2007

Baía de Todos

o que diria eu então
frente-a-frente e verso desse desbunde?

o que direi eu
corpo solto no mar desta baía
santo de santo
cobertura salgada do meu olhar?

ela que rasga costeiramente
as linhas sensuais
dali, daqui do Solar
onde encontrei o meu amor

não deixa de ser de todos
os santos
e não-santos
dançarinos da vida
dessa cidade

pura, puríssima voz sorrateira
diária
da Bahia

*Crédito da Foto: Maíra Cronemberger Caffé


segunda-feira, abril 09, 2007

Recomeço

Republiquei quase todo o conteúdo do blog antigo. Não queria perdê-lo como da outra vez.
Aqui recomeço essa parte de mim: a poesia. É um redesenho.
Uma dor imensa não poder trazer os comentários. Mas tenho-os na memória do coração.

E vamos à poesia!
13/11/2006

...e que do mais profundo de mim
brote o amor que mereces, que é teu.

é quando algo me diz
que há um mundo maior que esse
e lá estamos juntos

pra lá, bem pra lá
onde cada um vestirá a sua roupa de carinho
e dividirá o leito pra sempre

você merece o mundo de carinho
e o terá

Feliz Aniversário.

borboleta de cetim
sassaricando no ar
deste imenso jardim
borboleta de cetim
tem azul, tem amarelo
rodeados de carmim
borboleta de cetim
diz que a vida é turbulenta
nesse sobe e desce sem fim
borboleta de cetim
você que antes era lagarta
como pode ser linda assim?
borboleta de cetim
queria eu poder voar
você ensina para mim?

deixe assim estar
um minuto, por favor

pare a lâmina na garganta do barbudo
(a barba por fazer)pare a asa mil.movimentos.por.segundo do beija-floros elevadores dos prédios e as correntes das torres
e diga a rapunzel pra não jogar as tranças agora

parem os cambistas a venda ilícita dos ingressos
congelem os cardumes multicoloridos
e a raio do farol da Barra, de Itapuã, do casal que irradia luz de amor

fechem os livros de concursos, de auto-ajuda
a bíblia, os diários, bulas, guardanapos com réstia de álcool,
panfletos, recados, bilhetes,parem a escrita!

Não vêem?!
Nâo vêem vocês que setembro vai passando, acabando,
dizendo adeus
e que só nos resta calar um pouco,
parar um pouco,beijá-lo na facee ler uma poesia, para todos nós, para o mundo?

Vamos todos à forra com a poesia
porque setembro desagua
e só ela, senhora toda dona de setembro - a poesia - saberá como nos salvar até o ano que vem

nos levar até um outro setembro!


Vem, dia
com os braços longos de mar apoiados no corpo
salgado amor de quem espera o novo
cada canto, todo canto, todo canta a claridade tua

Vem, dia
rebolando - tua parte mulher com teu manto enorme azul, pingado de branco, nuvem-algodão-doce
sei que espreitas tua amiga noite por aí em qualquer parte do horizonte, espraia-se,

à espera pra surpreender os amantes com o passar imbatível das horas

Vem dia, senhor dos movimentos da vida alvoraçada das cidades
da manhã ocupada das lavouras
do chorinho do bebê - olhos grandes abertos

Olha, dia, trates logo de aparecer

por essa rachadura aberta do meu peito
que eu queria, ah! como eu queria!,ser o sol, esse teu filho solícito
impetuoso
que verte sobre a humanidade
a alegre carícia dos cabelos dourados
dia
a
dia

*Após "Vem, noite", de Pessoa, na voz cálida e profunda de Autran. Inspiração arrebatadora.

Chuvisco

Cidade mais cinza não há.
Cidade mais fria não há.
Você disse que viria.
Eu abri o armário, o peito, os olhos,
forrei a mesa com aquele pano branco rendado.

Acendi velas, fiz jantar,
ajeitei os edredons e botei "Minha vida sem mim" no vídeo.
Mas, ah! cidade, desgraçada a minha espera!
Mas, ah! demônios, você disse que o frio, o frio, imã dos amores!, era o problema que impedia a sua vinda.


Eu não ouvi. Fingi que foi o ônibus que não passou, que alguma enchente
te colocou numa ilha,
fiz de conta até que sua mãe, que mora na Sibéria,
disse que lá estava mais quente que aqui
e você resolveu fazer seu papel de filho

Prostrada, mas com um fio dilacerante de esperança,
coloquei a cadeira de balanço em frente à janela
e torci pra que esse chuvisco, esse chuvisco de nada,
não atrapalhasse a nossa vida.


se peço brilho, como se pede chuva à noitinha,
ela mostra o caminho

ela sabe tocar, chamegar - ser o que se quer
destino do rio da minha vida
mulher

se for campo de ciprestes espinhentos
te quero por pertose for mar de amor completo
te quero aqui dentro

você, que é o tempo das minhas vontades
que é templo das minhas denguices
que é

soberana,

como só você sabe ser

Nosso comemorar de todo mês, docinho.
4 anos e 10 meses.
Um cheiro.

tem aquele do homem com uma capa branca
que, com a mão pequena, dá docinhos para as crianças
e tem aquele outro do macaco zé
que dava gargalhadas e chupava picolé
aquele de estar sempre caindo
dum prédio que toca o azul do céu
que dá frio na barriga
mas perto, pertinho do chão, acaba
(dizem que a pessoa está crescendo!)
e mais aquele
no meio do mar, no meio do tapete que é o mar,
joão conversando com os peixes
glub-glub-glub-glub
tem um montão de sonhos
bons ou ruins
mas eu adoro mesmo,
no seio dessa criança que sou,
é acordar do sonho
e te ter comigo aqui
aí, nesse espaço de te olhar,
quando realidade e sonho dão as mãos,
velar a tua alma e o que mais vier no teu son(h)o.

*expressão que roubei do [porta-palavras] de Rominho.

de repente é como se a pele
tivesse sob si mil lâmpadas brancas
que se acendem em consenso
dizendo: "é noite, é hora"

e a fina pele dos braços
e a parte interna das coxas
e tudo quanto mais é pele no corpo
reivindica ser luz e brilha

trespassa veias, artérias, ossos
e tudo mais humano
e órgãos e pêlos e unhas

incandesce

é nessa hora, quando a noite vira criança,
que me ponho em forma de concha
e luo
Mamai,
as coisas belas
dessas que passam durante o dia
e pequenas pequenas
agigantam a alma
eu sinto, sinto, gosto, gosto
mas as deixo quietas

no que quero mexer e beijar e olhar 7 mil vezes
são essas suas unhas vermelhas
ponte para o meu desejo
esparramado na sua mão

o rubro convite
para o amor sublimado

Senta aqui Arnaldo Antunes
na minha frente Alice Ruiz
e, Ana Cristina, não fique tão distante assim
(tudo bem, pode ficar com os óculos escuros)

agora me digam, conversa-pé-de-ouvido,
como é que faz poesia rapidinha
navalha entrando na carne
coração ponta do lápis?