o que direi eu
corpo solto no mar desta baía
*Crédito da Foto: Maíra Cronemberger Caffé
"Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que não é mudez"
deixe assim estar
um minuto, por favor
pare a lâmina na garganta do barbudo
(a barba por fazer)pare a asa mil.movimentos.por.segundo do beija-floros elevadores dos prédios e as correntes das torres
e diga a rapunzel pra não jogar as tranças agora
parem os cambistas a venda ilícita dos ingressos
congelem os cardumes multicoloridos
e a raio do farol da Barra, de Itapuã, do casal que irradia luz de amor
fechem os livros de concursos, de auto-ajuda
a bíblia, os diários, bulas, guardanapos com réstia de álcool,
panfletos, recados, bilhetes,parem a escrita!
Não vêem?!
Nâo vêem vocês que setembro vai passando, acabando,
dizendo adeus
e que só nos resta calar um pouco,
parar um pouco,beijá-lo na facee ler uma poesia, para todos nós, para o mundo?
Vamos todos à forra com a poesia
porque setembro desagua
e só ela, senhora toda dona de setembro - a poesia - saberá como nos salvar até o ano que vem
nos levar até um outro setembro!
Eu não ouvi. Fingi que foi o ônibus que não passou, que alguma enchente
te colocou numa ilha,
fiz de conta até que sua mãe, que mora na Sibéria,
disse que lá estava mais quente que aqui
e você resolveu fazer seu papel de filho
Prostrada, mas com um fio dilacerante de esperança,
coloquei a cadeira de balanço em frente à janela
e torci pra que esse chuvisco, esse chuvisco de nada,
não atrapalhasse a nossa vida.